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PME e Sustentabilidade: A Nova Vantagem no Mercado Europeu?

Num momento em que a sustentabilidade e a transição digital se tornaram prioridades estratégicas da União Europeia, as Pequenas e Médias Empresas (PME) emergem como protagonistas da nova economia. A integração de práticas sustentáveis deixou de ser apenas um dever ambiental — é hoje um fator de inovação, eficiência e competitividade! Neste ecossistema, centros de interface tecnológico da Universidade do Minho, como o CVR – Centro para a Valorização de Resíduos, assumem um papel vital na transferência de conhecimento e na aceleração da transformação verde da indústria portuguesa.

 

O ano de 2025 marca um ponto de viragem para as PME europeias, com a adoção da Norma Europeia Voluntária de Relato de Sustentabilidade (no original, VSME) e a flexibilização do pacote “Omnibus”, que simplifica as regras da Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD), reduzindo o peso administrativo e promovendo a transparência nos indicadores ESG. Estas medidas vêm acompanhadas por uma forte aposta na inovação tecnológica como vetor da sustentabilidade — reforçada pela Coligação Digital Verde Europeia (no original, EGDC), que incentiva a adoção de tecnologias digitais para alcançar a neutralidade carbónica.

 

A estratégia europeia para a competitividade verde é clara: transformar as cadeias de valor, tornando-as mais eficientes, menos intensivas em carbono e mais resilientes. E é neste ponto que os centros tecnológicos se afirmam como parceiros fundamentais das PME, ao combinar investigação aplicada com soluções industriais concretas.

 

Segundo o European Innovation Scoreboard 2025, Portugal, considerado um inovador moderado, subiu três posições no ranking europeu de inovação, alcançando o 16.º lugar entre os países mais inovadores, fruto do dinamismo das PME tecnológicas e dos centros de tecnologia e inovação como o CVR. Paralelamente, o programa European Innovation Council Accelerator, inserido no Horizonte Europa, disponibiliza mais de 630 milhões de euros em apoios para PME que desenvolvam soluções verdes e digitais.

 

Todos os indicadores apontam na mesma direção: as empresas que investem em sustentabilidade reduzem os custos operacionais em até 25% e registam melhorias substanciais na produtividade e fidelização de clientes. Além disso, empresas que adotam políticas Ambientais, Sociais e de Governação (no original, ESG) consistentes têm hoje maior acesso a financiamento, atraindo investidores comprometidos com a transição ecológica.

 

Reconhecido como Centro de Tecnologia e Inovação (CTI), o CVR atua há mais de duas décadas na promoção da economia circular, na valorização de resíduos e na inovação industrial sustentável. Instalado no Campus de Azurém da Universidade do Minho, em Guimarães, a instituição dispõe de 2.000 m² de laboratórios e equipas especializadas em I&D, consultoria, análises ambientais e transferência tecnológica.

 

A título de exemplo, atualmente, o projeto WasteInMotion – T.T. and Biorefinery in the Valorization of Agri-Food Waste, coordenado pelo CVR, é um exemplo concreto deste papel transformador. A iniciativa promove a valorização de resíduos agroalimentares através de biotecnologia e transferência tecnológica, convertendo subprodutos orgânicos em recursos para novas cadeias de valor, como materiais de construção sustentáveis e bioprodutos de elevado valor acrescentado. Com o WasteInMotion, o CVR reforça o seu objetivo de tornar o conhecimento científico acessível às empresas — especialmente PME —, ajudando-as a integrar soluções digitais e circulares que potenciam eficiência, empregabilidade e impacto ambiental positivo.

 

Os dados mostram que as PME que colaboram com centros de tecnologia e inovação, como o CVR, registam aumentos médios de 20% na capacidade exportadora e 15% na produtividade em três anos. A combinação entre I&D aplicada, economia circular e digitalização cria condições para cadeias de valor mais robustas e competitivas. O WasteInMotion, ao promover a transformação de resíduos agroindustriais em bioprodutos, representa um modelo demonstrativo de transição ecológica aplicada à economia real — com impacto direto no setor alimentar, nas indústrias ambientais e no desenvolvimento territorial sustentável.

 

A sustentabilidade é hoje o motor que impulsiona a inovação e a competitividade das PME europeias. A transição verde e digital já não é um desafio abstrato, mas uma realidade mensurável — com impacto direto na eficiência, nos custos, no acesso a financiamento e na reputação corporativa.

 

O CVR e os restantes atores do ecossistema de inovação português são a demonstração clara que Portugal está preparado para liderar a transformação circular, unindo ciência, tecnologia e indústria rumo a um modelo económico mais inteligente, inclusivo e sustentável!

 

Jorge Araújo
Diretor Geral do Centro para a Valorização de Resíduos (CVR)